Cheguei na Universidade de Coimbra decidida: ficaria ali, à espera do instante decisivo, o tempo que fosse necessário.

Sempre que pensava numa viagem a Portugal, aquele lugar era sempre um dos primeiros que vinha à mente.E desde que tomei gosto por fotografar nas viagens, quando pensava em Coimbra, desejava fotografar um estudante usando o traje acadêmico preto passando pela belíssima e icônica fachada da Universidade. Não sei muito bem explicar o porquê dessa vontade… Talvez pela minha formação acadêmica ou simplesmente por achar elegante.

No segundo dia na cidade, acompanhada do Yuri (meu marido), da minha câmera e da cinquentinha (única lente que tinha na época), cheguei na Universidade. Andamos devagar, contemplando deslumbrados, a parte externa do conjunto arquitetônico do século XII, que desde 2013, com muita justiça, está na lista de Patrimônios Culturais da Humanidade da Unesco. Acredito que passamos de mais de uma hora do lado de fora, olhando tudo, fotografado, e nada de passar um ser vivo com os tradicionais trajes acadêmicos. 

Resolvemos entrar. O pátio estava lotado de universitários jovens, conversando alegremente e vestindo roupas modernas. Alguns professores também se juntavam a grupos de alunos e pareciam conversar de igual para igual, com o mesmo entusiasmo (e o mesmo tipo de traje, para minha decepção). Sentei-me em um dos bancos dos corredores e fiquei observando aquela cena animada. Lembrei do meu tempo de universitária enquanto, óbvio, observava se algum potencial modelo passava. Devo ter ficado mais de meia hora ali sentada e nada!

Entramos em uma das salas de aula vazias. Observamos como eram, comparamos com as salas mais modernas do Brasil, tiramos fotos. Yuri teve um lampejo adolescente, pegou um giz e escreveu no quadro negro: Yuri ♡ Luzia. Depois, ele resolveu subir a Torre (conhecida como CABRA) e eu fiquei novamente do lado de fora observando, mas nada do meu modelo passar. Quando Yuri voltou, já passava e muito do meio-dia. Estávamos lá há horas e bateu a vontade de almoçar. Dei-me por vencida e resolvi ir embora sem minha foto. Imaginei que, hoje em dia, ninguém mais deveria usar aquelas roupas. Talvez apenas em alguma solenidade. 

Quando estávamos quase passando pela porta de saída do Terreiro do Paço das Escolas, Yuri me diz: 

– olha para trás, tem um cara de preto passando.                                                

Parecia uma miragem: vestido do jeito que eu imaginava passando justamente pelo local que eu queria. Eu estava longe e sai correndo, com a câmera em punho, o máximo que pude para alcançá-lo ainda passando pela fachada. E eu corri, viu!? Corria e rezava para que ele não me visse e achasse que uma louca iria atacá-lo. Para fotógrafo com lente fixa, o zoom são os pés. Não consegui fazer o registro na distância perfeita, mas nada que o recurso de corte do programa de edição não tenha resolvido. 

Fui embora com minha foto tão deseja e com a confirmação da lição: esteja sempre atento e preparado, pois, muitas vezes, a oportunidade que desejamos – ou o que em fotografia chamamos de Instante Decisivo – aparece quando menos esperamos.

 PS: Essa foto recebeu uma menção honrosa no Festival Brasília Photo Show de 2019.

PS2: Essa história aconteceu em 2019. Mas embora sempre tenha gostado muito dela, só a escrevo agora, 3 anos depois, no bojo de um curso sobre Narrativas Afetivas de Viagem. Um dos exercícios do curso era escrever a história de algum objeto de viagem, quem também poderia ser uma foto.